sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Silêncio


Ao ouvir a tosse rouca...
Tuberculosa de uma motocicleta
Do telhado cinematográfico de casa
Fui lendo algo nas asas de uma borboleta.

Nela lembrei-me de certo silêncio
Um silêncio dos antigos lá dos passados
Ao deus do silêncio faziam - se homenagens
Levando paz e tranquilidade os povos brandos.

Mas não tão longe e um pouco antes
Franklin ainda nem sonhava em empinar pipas
E a eletricidade mergulhada no mundo das ideias
Dava lugar ao mundo orquestrado do canto das aves.

Disse às asas - as asas que se expandiam;
Quero eu o meu silêncio! Dê-me o meu silêncio!
E se é para conversas só ouço os diálogos das baleias
Na imensidão do mar selando em beijos o silêncio e o bulício.

Silêncio Inteiro, saudável. Silêncio silencioso
Um resolver sem balas, feito de sabão a se desmanchar...
Nas aguas claras de arraias, de tamanduás e araras preguiçosas...
A borboleta foi levando minha alma para de certo modo eu me encontrar.

Todos deveriam reivindicar o seu silêncio
Sete bilhões nesse hábito de árvores e folhas e cabelos
Movimentados pelo sopro de um calmo Tifão o senhor dos ventos
A brisa, plácida, de folhas viradas às vinte e quatro horas da manhã.

O silêncio vai de mãos dadas a uma sombra esticada
Nessa hora um muro de tijolinhos e uma luz morta lá no alto
Na mão um livro, de filosofia alemã intrinsecamente pesada...
Ou de receita de bolo de mandioca e de biscoitos amanteigados.

Não se sabe ao certo o que veemente leva esse espectro
Mas o silencio que ele conserva representa o caos doente:
Desorganizando as ideias. Desconectando se mentalmente
Os ruídos de hoje vão devorando a gente como último cancro.

Volto ao telhado de casa e ouço o absurdo com os olhos
Cem motores potentes movimentam uma frágil manivela
E no meio disso tudo o silêncio indo embora em mudo choro
E tudo por causa de um livro e uma motocicleta velha.


Ander 01/07/2012

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