sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O vinho desregrado




Dê me agora a garrafa... seca!?
Tu transbordaste a taça de vinho vil
Escorreu pela boca a febre, o desvario
De uma mulher completamente acesa.

E nua a contorcer nos lençóis
Rasga um pedaço do própria lábio
E encharca-se de sangue até o clitóris
De danações, lubricidades e escárnios.

Lá a meretriz das plebes se constrange
E vá correndo encenar as penas de Maria
Pois tu aqui a pedir que ainda mais a sangre
Quando o grande lobo esgotado quase morto cairia.

E teu corpo doloroso ao gozo clama
A tentação, essa lascívia que tanto inflama...
Roga aos céus e quando Deus não mais se excita
Há um gole do vinho mais vil em minha garganta.


Ander 24/01/2015 

Tédio moderno


Se voltássemos no tempo
Ou adiantássemos o relógio
E encontrássemos a nós mesmos
Mais velhos ou mais novos
Tão confusa é a nossa mente
Instável nossas ideias
Que agrediríamos a nós mesmos
Por incompatibilidade de opinião
Se hoje pensamos A
Amanhã o pensamento será B
E antes do A foi C
Porque somos influenciados  
Paradoxalmente alienados
E disparamos o resolver
E gritamos por aquilo hoje
Amanhã já esquecemos
Do que ontem ignorávamos.


Ander 21/01/2015        

Possessa


Dilacera e contorce
O espírito que rasga
Geme pecaminosa
Em contrações da carne...
A deliciosa anatomia
Trêmula e trêmula e lasciva
Estão teus olhos possessos
Completamente brancos
E no instante dos sonhos
É a hora de Súcubo
E meu corpo sobre o seu
Sangramos por vezes a consciência
Devorando na antropofagia um ao outro
Dentadas por dentadas
Animalescos lobos
Que pedaços arrebentam 
E os dedos que abrem as carnes
Partes indecifráveis entram
As mãos povoam os seios
Sacrificamos a aréola
E sacrificamos a auréola
Sua língua é bifurcada
Como os olhos das serpentes
Rubro a boca e morta a boca
E esse calor da pele em brasa
Desvariada de prazer
Umedece a toda
Escorre toda...
Foda a toda e.... Para...
E contemplo o corpo inerte
Que o Diabo Abandona
E assim vazia como de encontro a morte
Reencarna.


Ander 01/01/2015  

Bonecas de Pano




Na beirada do Universo
A senhora dona dos relógios do tempo...
Todos quebrados. Ela em sua cadeira de balanço...
Pelo espaço, serenamente cantarola as canções róseas eternas
E costura bonecas de pano
São poucas, uma a cada mil anos, e as lança para a terra
São costumeiramente de cílios enormes, a boca de coração vermelho
A pele que o Sol queima no curso da queda
Quando caem o mar as toma, e logo mais velhas ao caminho da terra,
Para sempre bonecas de pano.


Ander 27/12/2014

Memória


Um pensamento
Em todos nós...
Como corpo estirado
Entre árvores...

Um abutre
Em calor escaldante
Levanta voo sobre a carniça...
Com o pedaço de carne
Descendo sobre a goela,
Outro pássaro desce,
Outro pássaro sobe,
Devorando a singular
Parte infausta do cérebro
Encharcada da pestilenta
Memória.

Do pensamento o corpo
De nós mesmos
Como o fígado de Prometeu,
Que nunca acaba.

Essa aberração,
O tumor metafisico
Que todos nós temos
Nunca é retirado
Se, a carne regenera,
Ou a Natureza nos aniquila
Ou nós mesmo com a cabeça nos trilhos de um trem
A despedaçamos.  

Daí o fim da vida
Toda ela se destraça
E se resta a lembrança
Aquele corpo que irá morrer
Por um tiro
Do último suspiro
Brilha a miserável memória.             


Ander 23/12/2014

Lábios vermelhos


Peguei o pensamento quando dei-me conta
Acordado sobressaltado
Da falta de sentido que estava sentindo
E na sondagem de onde ele se encontra.

Encontrei o abraçado a ti
O vi na beirada de uma correnteza
Lá esse pensamento na clareza
Tinha a toda pela inconsciência.

Lá estava seu corpo onírico
Ninfa dos sonhos secretos
Dançando e dançando
Em redemoinho
Teus lábios vermelhos
A lua lhe banhando
Toda de preto.

Você é toda aurora
O horizonte te faz sorrir
E até desce o galho o pé de amora
Para tantos dias que há de vir...

Agitei o encéfalo para que ele aceda
E voltei a mim pela noite em queda
Oh! E agora completamente
Meu pensamento consciente.

Ainda a tinha inexoravelmente
Dançando ainda mais bela
Do que nunca no fogaréu das selvas
Abaixo da abobada das estrelas.


Ander 06/12/2014 

O coração veio correndo


O coração veio correndo
Sobressaltado, batendo
Soluçando e morrendo
De frente ao seu dono
Caindo calado
Seu dono o subiu ao peito
Enfiou pelo buraco
E depois ficou mostrando
A todos aqueles
Que tinham um coração...
De ferro retorcido
Que ele tinha um coração
Mesmo de carne já morta.


Ander 27/10/2014

Amanda Ripley




Meu coração bate junto com de Amanda Ripley
Perdidos no terror fantasmagórico do espaço
Protagonista e jogador corpo de suspense suspenso
Com o “O Organismo Perfeito” das entranhas de H.G Giger
Que o ácido corroa as vísceras e que a segunda boca perfure o crânio.


Ander 25/10/2014

Subir na Árvore


A infância é o espelho d’água
É o reflexo de nosso narciso
Não vamos tocá-la
Porque sua imagem se esparrama
E elas cresceriam muito
É nós encurvaríamos
Deixamos o reflexo quieto
Do jardim florido
Que elas brinquem para sempre
Num mundo só de crianças
Não a vestimos de adultos
Criança deveria ser atemporal
Como são os gatos  
E ter asas de pássaros
Na imaginação.


Ander 01/10/2014

Dedos do Mistério


Que bela dança que fez as Estrelas
Em espiral de poeiras te formou
Nas ondas cósmicas amarelas
O Caos Arquiteto o amou.

E pelos dedos do mistério
Escorreu da abóbada do Universo
Aquilo que seria o finito de sua consciência
E assim se formando do mesmo liquido ancestral.


Ander 15/09/2014

O céu, o mar e o deserto


Pulou de um precipício
O menino que levantou voou
Com suas asas de Ícaro
Alcançou nuvens e mergulhou.

Quando bateu nas águas
As estrelas lá enamoradas
Desceram nas ondas agitadas
E seu corpo feito já dado largas...

Saiu dos mares para a terra lava
Na decrepitude de todas as camadas
Seus ossos desfizeram na profunda cova
Com o que sobra de tudo amor e toda amada.

Soliloquio da criança ao relento:

- Hoje é deserto, nem vida e nem morte
__________Batem ou Passam_________
Mais por esses portões
E minha vista não alcança nada
Grãos de poeira dançam nas carcaças
Não há caçados não há quem caça
Nos destroços dessa memória.


Ander 01/09/2014

Acerte o Sol com sua espingarda


O mundo morreu, amigo
Mas o mundo está mais vivo
Dos sonhos que desceram consigo
E o corvo e o abutre rabiscam seu livro.

Quando a vista aguada
E fecham duros, esmaga
O sopro da vida acuda
Definha, retorce, apaga.

Mas as águas não param
Ventos estremecem nas trevas
E tantos ruídos fazem as bicharadas
E nenhum condiz com seu fantasma.

Tristezas colheu, amarguras infindas
(Vai! Acerte o Sol com sua espingarda)
A vela da vida oscila. A serpente...
O cordão umbilical já te estrangula.


Ander 20/08/2014

Poeminha de criança para o Sol


Sol de você nunca mais reclamo
Mas se for para ficar, fica de vez
Não tanto indo e vindo e indo e indo e indo
Pode ficar de mansinho e também bem esquentado
(Você é quem decide, você é quem quer)
Não corro mais dos seus braços, palavra de escoteiro
Não vou para a sombra quando você lá extrapola
-  Na escuridão aterradora do seu Universo -
Só te peço que fique, teu sorriso abrindo as nuvens
É um encanto, então emendaremos escadas
E levaremos flores para você.


Ander 18/08/2014

Manifesto anti sonhar


Ignore! E vá para as montanhas
Deixando tudo que é feito humano
Deixando tudo quanto é sonho
Castores e raposas não sonham
Dinossauros não sonharam
Então porque tu ai tem que ser....
O contorcedor de tantos sonhos
Nem mais nem menos de tantas espécies
Pois aquelas seguem a vida
Aproveitam a Lua e o Sol e uma macieira.


Ander 22/07/2014

A agonia de uma árvore




Este céu está mudado
Abruptamente
Os ouriços estão partindo
Abruptamente
Minhas folhas exasperam
Abruptamente
Soltando dos meus galhos
Abruptamente
Que rugido incompreensível
Abruptamente
Meu tronco de ébano
Abruptamente
Mortalmente cortado
Abruptamente
Erguido por correntes
Abruptamente
Levado para a fabrica
Abruptamente
Meus pedaços sacudiram
Abruptamente
Pedindo e pedindo
Abruptamente
Meus irmãos chegaram
Abruptamente
Todos desmembrados
Abruptamente
Somos todos um agora
Abruptamente
Somos cadeiras e armários
Abruptamente.


Ander 21/06/2014

Flor Fincada


Se eu pudesse voltar no tempo
A levaria aos encantos da poesia
Mostraria a beleza de um arco-íris
E caminharíamos juntos pelos campos.

Se o tempo me desse esse pedido
Como uma vela de aniversario assoprada
Pediria que suas paixões fossem mais polidas
Tão menos angustiadas e mais refletidas.

Você notaria a beleza de um flor machucada
Que alguém em desvario de maldade a teve
Numa estrada de terra essa flor fincada
Arrancou sem piedade seu corpo leve.

Se o tempo assim quisesse
A bifurcação no final da estrada
Você iria comigo a que te envelhecesse...
A alma e que os sentidos te dariam dadas.

O amor abriria num leque
De possibilidades coloridas
Não mais nas balelas infindas
Nos disparates frívolos.

Mas o tempo assim não volta
- Nós somos o que somos -
E com pesar vejo a indo dentro
Desfalecendo dentro do seu cosmo.

Embora para amar, o amor...
Tem que estar em si próprio
Para assim permitir o amor ao outro
Primeiro a de se amar primeiro.

Como gostaria que por tudo sentisse
Todas essas palavras escritas na chuva
Pois elas ressaltam em você agua doce
Nesse maremoto de aguas ofensivas.

Pois antes seus olhos de beleza ilimitada
A candura desses olhos que me olham
E olhos para seus olhos de doçura
E não me canso de olhar e sempre a ti olho.


Ander 16/04/2014

Da Virtude e Perversão


O amor é a substância da virtude
Em todos seus caminhos serenos
Acompanha seu dono amiúde
Ele se assemelha a boa bebida
A garrafa que delicia o vinho
O cabelo grisalho e a escada
No entanto esse vinho é bivalente
Tanto mal quanto bom
Pois a perversidade e a virtude são irmãs 
E ambas crescem no coração.


Ander 25/03/2014

Tramas e Dramas


O acaso e o destino são dois amantes
Enamorados indistintos nos corações...
Da gente. Tramas absurdos se repetem
No caminho de nossas vidas e nossas ações.

Assim nossas vidas duas vezes acontece
E o que passamos continua pelo outro
Pela essa janela meu coração esvanece
Permitindo que eu olhasse tudo por dentro.

Nesses interiores há vendaval e há fluidos
Engana-se quem por dentro pensou ser forte
A tempestade que aflige a terra desmoronando-a
É a mesma magoa que abundantemente nos despe.


Ander 14/03/2014

Manifesto Niilista


Eu que ainda não vim
Posso alguma vez interessar-me sobre o meio
O meio para o fim do meu intervir
- de quem ainda não veio -
Eu que ainda não sou,
Voltando ao não primário
Do Ser eu que Sou
E de que nunca existirei de fato
Explodindo e implodindo em reverso aerodinâmico
Serei de pouco a pouco algo que não faz sentido algum
Retrocedendo ao ectoplasma da não alma
E a matéria álgida de todas as estrelas.


Ander 13/12/13

E no fim existe Buda




Não importa o que a vida atormenta...
O ser. Pois essa mesmo logo acalenta
E logo se desfaz e logo se reinventa
E se faz um sorriso sorrir vezes quantas
A segunda lágrima que cai já está certa
A terceira implode incógnita
E a quarta é ascensão anarquista
E a quinta num instrumental solista
É a paz e o descanso de um budista.


Ander 18/02/2013

Algodão




De pé perante um abismo
Olhei a substância da morte
E mergulhei em meu sadismo
Para comprovar os enigmas da sorte.

Cai em demasiados rios de lírios
Sem um ferimento ou dor impossível
E ao meu lado um estrebuchado rouxinol
Um animal que me acompanhou ao meu delírio.

Nas hostis vegetações fechadas
Senti a dor dilacerante das pedras
A espremer as facetas imaculadas
E não ter êxito nas cátedras das freiras.

E dessas veredas de tardes obscuras
A fauna inteira do Brasil a espiar-me:
- Igual à ciência ao redor de um cadáver -
E desse ínterim tais coisas a irritar-me.

Em minhas andanças evitei certo animal...
E dessa experiência da sorte deparei-me rente a rente
Lá vindo, a rastejar, a sibilar, a maldita serpente
Lá vindo assim bem nobre arrogante e vil.

 - Numa posição antropomórfica
Este réptil zombou das duas pernas
Por essa ser glamour da razão e da perfeita física
Conseguinte filosofia e não ter compatibilidades fraternas...

Com os desígnios da religião
E no seu entendimento
Ser um símbolo da perversidade
Para essa e da sabedoria na filosofia
Era um rudimento incrivelmente inexo -
Gritei “sai daqui demônio irreflexo!”

Cansado dos bichos de terra pulei ao mar
E esse me vomitou no mesmo instante
É que o mar desdenha o homem antes
E o homem o mar quer tomar.

Cai em terra, mas logo fui levado pelas aves
Tão alto, tão alto, tão alto que andei nas nuvens
E parei de andar e parei de tudo dentro dessa aeronave
Somente esses pedaços brancos, algodões de versos para narrar.


Ander 16/02/2013

Coração Meu




Meu coração tem catedrais imensas
Alastradas, escancaradas e sombrias
Quero eu inundá-las até o teto, todas elas...
Das torrentes das águas das chuvas
Os tolos corredores de Meu coração
Meu coração é um labirinto de espinhos
E sou cárcere do labirinto de Meu coração.


Ander 10/02/2013

Dionísio XXI




Dionísio moribundo suspirava
Ao pé da gigantesca sepultura
Ergueu o dedo suave a altura
E ao seu epitáfio falava.

O sexo espiritual eunuco
Estagnado incredulamente
Paladar horrível. Soltura dos dentes
E o vinho vazado de uma vagina cancerígena.

Dionísio Bradava! Hoje a desdém
Antidepressivos nessa hora
Pois não há ninfas a deixá-lo duro
Ou mancebos a bolinar seu rabo.

Cornucópia dos sentidos
Deus da orgia, deus da libido
Odores de seus vales apodrecidos
E há só moscas aos redores de Dionísio.


Ander 02/02/2013

Maria


Oh! Maria, o dinheiro é um símbolo
De mais danações do que fortúnio
E variado mais do que compreendido
O Dinheiro o Amor e o Suicídio
São irmãos dos mais íntimos
A felicidade não está nessas formas...
Abstratas. Quando na natureza
Ninguém é dono de nada
E poesia não enche nada
Nem espírito porque não existe espírito
E o estomago é uma ilusão mais dura
Mas não deixa de ser uma ilusão ainda
E seu filho, o Jesus Cristo
Estaria muito chateado com sua conduta.


Ander 20/01/2013

África!




África! Trono de marfim dos continentes
Trono Decorado de ossos dos deuses anciões
Sol escaldante dos desertos ondulado de serpentes
Precedentemente as narrativas europeias dos dragões.

Primitivas tribos. O Negro é o dono das terras
De dunas e sombrias serras espalhadas pelo mundo
Dádiva do deus Sol! Pincelas alegres tuas pinturas negras
Num festejo dos astros rubros em tambores delirantes mudos.

África! Contorce seus elefantes, enaltece os teus leões
Nas savanas infindas um coração místico sobrevoa
E uma lança ornamentada corta o tempo em dois
Lançada por um braço de ébano e a voz ecoa.

Possessões demoníacas, ritos e oferenda
No contexto de beleza que a pele branca
Em suas faculdades evolutivas não entenda
Batem os tambores as tribos agitando as ancas.

Batem os tambores as tribos todas, todas as tribos
E batem e dançam e os pés descalços empoeiram
A terra fronte da mãe África batendo os bumbos.


Ander 19/01/2013

Martírio de Gulliver




Uma girafa da moda disse a outra bocejando:
Estou com sono. A outra respondeu; eu também
Uma terceira disse a esmo; estou com fome
E uma quarta disse a quinta; terminei meu lance.

A parte da vida que controle os homens
- Um deslocado Panteísmo extraordinário -
De tédio dessa espécie cruzou aleatoriamente
Um dia com cinco girafas detestavelmente enfadonhas.

E de ouvidos nessa conversa
Desceu a seus órgãos reprodutores
E recolheu entre ovários e sêmens e outras carnes
E distribuiu essa semente a todos os homens.

Ao distribuir à sua essa espécie Alfa, a que fode
Para os anos de cinza e terra populosa
Nasceram criaturas enormes
Anomalias acéfalas errantes.

De braços descomunais e corcova
Do qual a chama! Juventude
A espécie dos homens ou ovas...
Regrediram a colossos, os gigantes.

A dominarem o mundo

E Gulliver em seu martírio
Voltou a seu caixão invisível
Depois de um pesadelo satírico.


Ander 16/01/2013

Chuva




Chuva, já não é tão mais bem vinda
E olha que gosto muito e muito de você
Mas a musicalidade dos pingos é como arranhões
E quero que você vá de mala feita, assim molhada
Já tenha me enchido muito. O guarda-chuva
Por exemplo, já é meu vestuário preferido.


Ander 14/01/2013

Força atemporal sistemática ondulando




O Universo é uma força atemporal sistemática
Ondulando num caos organizado
Não há como medi-lo e nem mesmo imaginá-lo
Em sua eterna profundeza
Nesse negro oceano nossa via - láctea
É do tamanho de um insignificante aquário
E nossa existência se dá nas partículas do ordinário
Independentemente das dimensões desse sistema
Essa força atemporal sistemática ondulando num caos organizado
Tem o controle desse ínfimo a um exemplo banal
Que é a união de duzentos bilhões de planetas
Não forçando o cérebro a pensamentos tão elevados...
É como uma imagem de satélite Captando uma área e a expandindo
Fazendo assim com uma parte mais conhecida da via láctea...


Ander 12/01/2013

Sono Líquido


Guardo luas lágrimas nas torrentes
Das águas. Sono líquido clareando
Clava de dentes. E cravo de dentes
Os sonhos, e também os afogando.

Recordo suas lagrimas nas torrentes
No arranhas céus de paredes mornas
Quieto, inóspito. Velhas novas normas
Dois brancos leites derramados quentes.

A superfície da lente dos seus olhos
Quando os raios sol machucam quanto
Um derradeiro pranto encerra um selo
Medo que jaz de mim em negro peito.

O éter idade fecunda os vinhos brandos
Que dos lábios corre discreto loucos
Antagonistas das marés e dos barcos
Um imóvel ao lago e o outro chacoalhando.

Assim dois corpos incertos
No subterrâneo dos encéfalos
Um no vandalismo dos instintos
O outro carregado de razão e abalos.


Ander 10/12/2012

Insônia





Trancado seus portões de ferro rubro
Ao fim dos que adentram todas as noites
Numa câmera congelada de espinhos
De onde se fabrica os sonhos negros
E no atemporal do ínfimo tempo
São Aqueles que não estão prontos ainda.

A recusa da morte é a insônia
Trancado seus portões de carranca
Aquele que de imprudência não entra
Carrega a vela que o pavio não inflama
E não traz o aspecto congelado
Da cadavérica pintura do passado.

Angustia estomacal
E o vômito feito de dedos
Não dormir é o sangue
Dos orifícios sensoriais...
Na nítida angustia
Dos males que aflige o homem
Os lençóis de psicose
Traz todas as meticulosidades
Da degradação da existência.

Para livrar-se das tempestades
Dessa metade de duas faces horrendas
Tem de ir ao centro além dos portões
E fixar-se eternamente junto aos que estão mortos.


Ander 28/11/2012

Nariz Vermelho


Quero vê-la com a cara pintada
De olhos de boneca de nariz vermelho
De boca enorme sorrindo mesmo calada
Tropeçando em sapatos divertidamente velhos.

Quero vê-la dançando em paralelepípedos
Esses que ganham as ruas de todos os bairros
De Minas descalça ou as vizinhas aqui de Vinhedo
As metrópoles devassas. Dançando entre os carros.

A natureza de tudo que é ser, a do beija flor
E a única força do eixo do globo, moderno bobo
O despertar da lua num canto de encanto seja dor
E a vitalidade do ladrão de amor ao grande roubo.

Seu espetáculo será intrínseco
O Coração libertando-se do peito
Cortinas metafísicas em praças e becos
Acrobáticos. Artistas marginais oriundos.

Se o corpo que a alma carrega
A psique doida a faz humana
O arlequim de suas carnes 
O furor que assim emana.

Observo em minha poesia muda
Os movimentos fluviais de seu ato
E por mais que, nesse ínterim, me irrito
É por um bobo de amar e não querer a partida.

Mas lá no meu âmago sempre Existe
A ideia Exata: a alegria do seu sorriso.


Ander 17/10/2012

Amor de outrora


O amor é assunto velho
De bengala e resmungão assim
Alguns o desconhecem esse
Outros o velam nas profundas da terra
(Errantes)
E para outros de ralas pelugens frescas
Esse senhor assim na terra
Não passou do não nascer
Escrever sobre essas rugas
É a nova forma velha da loucura
Louca de hospício, amarrada:
Levomepromazina e Clozapina.

E quando à poética liquida
Escorre pelas pedras imortais
Vinculando a abstração...
Da alma aos dedos sais
Qual a facilidade ao amor
Arde em suas palavras
E ao mesmo sacaneia.

São as penas que limpa os ossos
Ossos do amor. Falando assim de amor
Como nunca vi nessa
Contemporaneidade medonha.


Ander 14/10/2012

Para um Esqueleto



Quantas vezes, infinitas perturbadoras
Aflitivas, angustiantes, famintas vezes
Meus olhos de gelo arderam predadores
No seu esqueleto comprido amarelo
Quantas vezes, absorto em necrofagia
A pele esticando sobre seus músculos
Olhos de doença pornográfica rústica
Contradizendo esta paisagem mística
Eu delirando de orgasmo e de amor tamanho
Com sua caveira que tanto amo
Com os dois buracos profundos de seu crânio
Que há de um dia eu vê-los me olhando.

Ander 21/09/2012

Silêncio


Ao ouvir a tosse rouca...
Tuberculosa de uma motocicleta
Do telhado cinematográfico de casa
Fui lendo algo nas asas de uma borboleta.

Nela lembrei-me de certo silêncio
Um silêncio dos antigos lá dos passados
Ao deus do silêncio faziam - se homenagens
Levando paz e tranquilidade os povos brandos.

Mas não tão longe e um pouco antes
Franklin ainda nem sonhava em empinar pipas
E a eletricidade mergulhada no mundo das ideias
Dava lugar ao mundo orquestrado do canto das aves.

Disse às asas - as asas que se expandiam;
Quero eu o meu silêncio! Dê-me o meu silêncio!
E se é para conversas só ouço os diálogos das baleias
Na imensidão do mar selando em beijos o silêncio e o bulício.

Silêncio Inteiro, saudável. Silêncio silencioso
Um resolver sem balas, feito de sabão a se desmanchar...
Nas aguas claras de arraias, de tamanduás e araras preguiçosas...
A borboleta foi levando minha alma para de certo modo eu me encontrar.

Todos deveriam reivindicar o seu silêncio
Sete bilhões nesse hábito de árvores e folhas e cabelos
Movimentados pelo sopro de um calmo Tifão o senhor dos ventos
A brisa, plácida, de folhas viradas às vinte e quatro horas da manhã.

O silêncio vai de mãos dadas a uma sombra esticada
Nessa hora um muro de tijolinhos e uma luz morta lá no alto
Na mão um livro, de filosofia alemã intrinsecamente pesada...
Ou de receita de bolo de mandioca e de biscoitos amanteigados.

Não se sabe ao certo o que veemente leva esse espectro
Mas o silencio que ele conserva representa o caos doente:
Desorganizando as ideias. Desconectando se mentalmente
Os ruídos de hoje vão devorando a gente como último cancro.

Volto ao telhado de casa e ouço o absurdo com os olhos
Cem motores potentes movimentam uma frágil manivela
E no meio disso tudo o silêncio indo embora em mudo choro
E tudo por causa de um livro e uma motocicleta velha.


Ander 01/07/2012