segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Enternecida


Meu coração está em segredo
Ponho a mão, sinto-o, o excedo...
Uma agitação súbita e singular
Lá no interior, dentro do meu peito e,
Sempre tão calmo, ritmado ele esteve
Outrora em seu dínamo religiosamente sagrado
Até que agora, nessa hora, nesse dia
De muito vento, triste ventania
Sobe em minha garganta e comunica
Que tudo começou por causa dela
E eu; “porque tudo disto meu coração? ”
E novamente em seu silêncio ele encerrava
Sem resposta ao que eu clamava
Voltou meu órgão a sua caixa torácica
E continuo severamente em seu silêncio
E meu corpo sucumbia, mais nada respondia
E quando me pus na grande pesquisa
De que tudo começou por causa dela
Verdade era, a rosa de todas as flores
Dela eram rosas, rosas todas elas
Das pétalas etéreas, delicada, enternecida
A boca, os olhos, rosas de cabelo... em definitivo...
Tudo começou por causa dela, a causa para o alivio
A responsável pelo o que acontecia
Ao sofrimento a que ele se lançava
E no fraco batimento, penúltima força
Fui à jovem que caminhava pela areia
Dizer-lhe que meu coração sofria deveras
E assim ao seu sorriso brando
Meu coração pulou em prantos
Junto ao seu coração que também sofria.


Ander 19/10/2015

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Itinerário espírita


Há dessa ave que assim não voa
Onde a existência a puniu vezes duas
E mais uma se contarmos a mão que entoa
O som, o estalo do seu pescoço se quebrando.

E me perturba de a ver na condição
Condenada a ser essa ave, há de então...
Ter o espírito grandioso, outrora, outrora
Como o general das grandes batalhas sonoras.

E agora, logo na panela porque meu estômago doa
De tanta fome de comer sua carne revirada (à toa)
Será que comeria junto de sua carcaça a alma cheia?
De um apostolo que esteve na estrondosa santa-ceia...

Não pude, pula a alma do cadáver, ela escapula
E nos espirais dos vértices das incógnitas seculares...
Conta-se a história dessa alma que em períodos regulares
Esteve em reis, em primatas e parasitas e na Primeira Célula.


Ander 07/10/2015

domingo, 13 de setembro de 2015

O corpo que clamava uma alma livre


Indecisa, errante, à deriva, alma oriunda
Dê-me essa alma da mais vagabunda
Sem expectativa alguma, alma suja
Alma de cirrose, de ilusão e overdose,
Dos prédios lúgubres da esquizofrenia
Quero uma alma do valor mais baixo de mercado
Alma da baixeza, além da anarquia, desnuda, fodida
Deem-me essa miséria alma em que todos os dias...
Desce pelo ralo, almas tantas, da higiene formal
Quero essa alma doente, uma alma de todas as angustias
Quero e mais quero essa alma doente pois uma alma...
.... Sã não vale nada!
E este corpo de espasmos
Rumina ofegante esse espírito
Essa circunferência abstrata vomita
O ectoplasma para fora dos restos
E o pássaro bica a alma e com ela voa
E lá no céu essa alma tem a coroa
E urgentemente a alma que o pássaro leva
É a alma que não habita ninguém.


Ander 11/09/2015

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Espuma quebradiça


Avistei-a sorrateira, de lacinho
Uma Pin Up, entre arbustos, enfeitando
Ia, como se no mundo nada mais existisse
Tocar derradeiramente os pés profundos.

É a juventude cobrindo-lhe a face
Branca como flocos de neve, hora negra...
Como a última pantera. E a pele ancorava
Vagarosamente na mais lasciva cor.

E logo cada peça no seu corpo
De onde lentamente a gravidade...
Descia, de seus montes médios
Peça por peça passando por sua cheia flor.

E assim deitada sobre as pedras
Escultural figura dos grandes desejos
Sobre as paredes dos grandes rochedos
A espuma quebradiça nas ondas da vagina.                                                                                     
Desacoplou de suas metafisicas
Rasgando no horror da intensidade
A outra metade, dos vícios obscuros
A irmã de suas carnes ectoplásmicas.


Ander 27/07/2015

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Rua dos Flagelos


Rouca, arrastada e sombria
Moribunda garganta coagular
Voz de atrozes catacumbas frias
Ondulando de sua boca triangular.

O ar de gélida assombrosa
Desregulares passeios noturnos
Monólogo das lascivas horrorosas
Tem em seus dedos os anéis de Saturno.

O único trapo é a única pele
E os seios decrépitos e sublimes
A louca pela rua dos flagelos
Vai rouca a excitar todas as plebes.

E fala desordenadamente fala
Sem sentido alguma cada palavra
E mesmo já pronta a pavorosa vala
Há no cadáver o recuo de entrar nela.

E quando pelas vielas remotas
Desorientada do fulgor supremo
Perante a igreja dos santos devotados
Um rapaz dos joelhos castigados
Se apaixona loucamente por ela.


Ander 21/06/2015

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Intervalo


O nosso encontro e o desencontro nosso
Avista as constelações de astrológicas estrelas
Em intercalações de todas as estações, resplandecem
Para a Afrodite dos tribais, êxtase de graça e fascínio
E parece-me que foi como um atemporal divino
O intervalo que o destino fez, o arco de corais de acasos
O nosso desencontro e o encontro nosso
E que sim, desse acaso, desse não há de seres
E o tempo que passou obstinadamente
Assegurou-se que em suas notas musicais
Duas sombras, dois pilares, dois céus, dois mares
Em determinado momento em sintonia entramos
A tônica do ventre das ideias. Duas experiências
Que se intercalam em ar de modernos mistérios
A Afrodite dos tribais, êxtase de graça e fascínio
Beleza inconfundível nos crepúsculos dos prados.


Ander 02/06/2015

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Céu estrelado


Ao recolher noite adentro
Meus pés de volta à casa
Senti como tendo asas
O coração a pular do peito.

E subiu ele (coração) as estrelas
O teto da terra pontilhado
E de tantas estrelas, todas elas
A face ao céu estrelado.

Lua de prata, a esculpida e formosa
Divina, angelical e tudo é primavera
A alma do coração que calma e amorosa
A véspera das rosas docilmente espera.

E desceram eles (os corações) das estrelas
O meu para com o céu a devoção e finitude
O céu para com o meu em espirais de aquarelas
A espiritual imortalidade.


Ander 06/05/2015

Quietude estelar





Rios do ataúde
Apodrecidos pêssegos
A paz d'alma minha
(Embora em vida)
Luz que aquece
E desce o poente
Das torrentes
Mais límpidas
E dos clarões
Estrelados
Ébano dos
Telhados abandonados
Cascos sem dono
Serenidade e abandono
A livre prosa
Todas as espécies
Pela última penumbra
A paz, o sossego
Quietude estelar
Rios que não ondulam
Apodrecidos pêssegos.


Ander 03/05/2015

quinta-feira, 23 de abril de 2015

O olhar repulsivo da Natureza


Deus que de todos os homens é dono
Cada animal imóvel que a vida desespera
O retira das trevas profundíssimas do sono
E os põe nos penhascos pontiagudos da terra.

De lá das alturas esse desgraçado sofre
E caminha deixando pedaços da carne
Transparecendo a caveira e a psique
E horrorosamente os dois morrem.

Nem cadáver e nem fantasma
Sombra dos cantos lamentáveis
Montanhas de detritos inexoráveis.

E o Senhor em seu orgulho imenso...
Enaltece suas abominações desse evento
Onde a Natureza repulsivamente olha os dois.


Ander 22/04/2015

terça-feira, 21 de abril de 2015

Vil Fantasma


O chá na boca passa a hora
E amarga! antes doce estava, e agora
As palavras, sem vida de um amoroso padre
A garganta fecha. Bate a janela de madeira, a madre
E os trincos dos quartos se contorcem, pavoroso adveio
Tocam os sinos, chamam o povaréu, um ar completamente feio
Todas de saúde estavam e irão morrer em seus quartos pequenos
O tal dia tarda, iluminando a candeia de barro. E cheia de venenos...
Da serpente! que sai dos matos e morde o animal que estaria à mesa.

Em frente o cemitério onde pouca gente espera o cadáver de um velho
O corpo que rendeu-se a desmaterialização de todo um aparelho...
E o carro fúnebre carregando essa carcaça, horripilante passava
E acima um fantasma atormentado que não se conformava
Ia com a odiosidade da vileza profunda que teve em vida
Vai... com o rancor na alma que o acompanha ainda
Nas queixas no abismo da infernal estranheza.


Ander 21/04/2015

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Putrefação Metempsicose





Queria sobre o meu corpo
Acima do meu estado último
Do socorro. E logo para o túmulo
Encerrando a harmonia do átomo.

A luz e as trevas se abrindo
Eu pelo ínterim tecendo
Ou como espírito subindo
Por fim com o Diabo descendo.

O fluido que reencarna
Metempsicose das ideias
Cósmica circulação eterna
Para a finalidade da matéria.

E aqui a carne se desfaz
A mosca ruidosa a consome...
Come a parte que o cérebro é capaz...
De criar o engano de ter alma o homem.

E volto da putrefação da epiderme
Analisando a inexistência da pós-carne
Nem reencarnação, nem céu e nem inferno
Somente a dor do estalo intrincado do carbono.


Ander 07/04/2015

sábado, 28 de março de 2015

A boca do mundo




A boca do mundo se abre
Para soprar todas as dores
Essa que transporta a pobre
Gente… para todos os lugares.

E a fumaça obscura ondula
Miseravelmente o alvo certo
Esmaga, e arranca a medula
Que acoplava ao resto dos restos.

É natural a tristeza enorme
Pairar sobre os nossos corações
Mas quando essa tristeza consome
A alma desse órgão errante em porções...

Dor! E dor e sofre em ser consciência
E sofre para sempre, morre ao nascer
Cadáveres dos acidentes da violência
E o derradeiro fio da alma tende adoecer.

E tórrida a chusma onde os abutres...
Do céu devoram os deuses e mortais
E o louco mortal também devora Deus.


Ander 28/03/2015 

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O vinho desregrado




Dê me agora a garrafa... seca!?
Tu transbordaste a taça de vinho vil
Escorreu pela boca a febre, o desvario
De uma mulher completamente acesa.

E nua a contorcer nos lençóis
Rasga um pedaço do própria lábio
E encharca-se de sangue até o clitóris
De danações, lubricidades e escárnios.

Lá a meretriz das plebes se constrange
E vá correndo encenar as penas de Maria
Pois tu aqui a pedir que ainda mais a sangre
Quando o grande lobo esgotado quase morto cairia.

E teu corpo doloroso ao gozo clama
A tentação, essa lascívia que tanto inflama...
Roga aos céus e quando Deus não mais se excita
Há um gole do vinho mais vil em minha garganta.


Ander 24/01/2015 

Tédio moderno


Se voltássemos no tempo
Ou adiantássemos o relógio
E encontrássemos a nós mesmos
Mais velhos ou mais novos
Tão confusa é a nossa mente
Instável nossas ideias
Que agrediríamos a nós mesmos
Por incompatibilidade de opinião
Se hoje pensamos A
Amanhã o pensamento será B
E antes do A foi C
Porque somos influenciados  
Paradoxalmente alienados
E disparamos o resolver
E gritamos por aquilo hoje
Amanhã já esquecemos
Do que ontem ignorávamos.


Ander 21/01/2015        

Possessa


Dilacera e contorce
O espírito que rasga
Geme pecaminosa
Em contrações da carne...
A deliciosa anatomia
Trêmula e trêmula e lasciva
Estão teus olhos possessos
Completamente brancos
E no instante dos sonhos
É a hora de Súcubo
E meu corpo sobre o seu
Sangramos por vezes a consciência
Devorando na antropofagia um ao outro
Dentadas por dentadas
Animalescos lobos
Que pedaços arrebentam 
E os dedos que abrem as carnes
Partes indecifráveis entram
As mãos povoam os seios
Sacrificamos a aréola
E sacrificamos a auréola
Sua língua é bifurcada
Como os olhos das serpentes
Rubro a boca e morta a boca
E esse calor da pele em brasa
Desvariada de prazer
Umedece a toda
Escorre toda...
Foda a toda e.... Para...
E contemplo o corpo inerte
Que o Diabo Abandona
E assim vazia como de encontro a morte
Reencarna.


Ander 01/01/2015  

Bonecas de Pano




Na beirada do Universo
A senhora dona dos relógios do tempo...
Todos quebrados. Ela em sua cadeira de balanço...
Pelo espaço, serenamente cantarola as canções róseas eternas
E costura bonecas de pano
São poucas, uma a cada mil anos, e as lança para a terra
São costumeiramente de cílios enormes, a boca de coração vermelho
A pele que o Sol queima no curso da queda
Quando caem o mar as toma, e logo mais velhas ao caminho da terra,
Para sempre bonecas de pano.


Ander 27/12/2014

Memória


Um pensamento
Em todos nós...
Como corpo estirado
Entre árvores...

Um abutre
Em calor escaldante
Levanta voo sobre a carniça...
Com o pedaço de carne
Descendo sobre a goela,
Outro pássaro desce,
Outro pássaro sobe,
Devorando a singular
Parte infausta do cérebro
Encharcada da pestilenta
Memória.

Do pensamento o corpo
De nós mesmos
Como o fígado de Prometeu,
Que nunca acaba.

Essa aberração,
O tumor metafisico
Que todos nós temos
Nunca é retirado
Se, a carne regenera,
Ou a Natureza nos aniquila
Ou nós mesmo com a cabeça nos trilhos de um trem
A despedaçamos.  

Daí o fim da vida
Toda ela se destraça
E se resta a lembrança
Aquele corpo que irá morrer
Por um tiro
Do último suspiro
Brilha a miserável memória.             


Ander 23/12/2014

Lábios vermelhos


Peguei o pensamento quando dei-me conta
Acordado sobressaltado
Da falta de sentido que estava sentindo
E na sondagem de onde ele se encontra.

Encontrei o abraçado a ti
O vi na beirada de uma correnteza
Lá esse pensamento na clareza
Tinha a toda pela inconsciência.

Lá estava seu corpo onírico
Ninfa dos sonhos secretos
Dançando e dançando
Em redemoinho
Teus lábios vermelhos
A lua lhe banhando
Toda de preto.

Você é toda aurora
O horizonte te faz sorrir
E até desce o galho o pé de amora
Para tantos dias que há de vir...

Agitei o encéfalo para que ele aceda
E voltei a mim pela noite em queda
Oh! E agora completamente
Meu pensamento consciente.

Ainda a tinha inexoravelmente
Dançando ainda mais bela
Do que nunca no fogaréu das selvas
Abaixo da abobada das estrelas.


Ander 06/12/2014 

O coração veio correndo


O coração veio correndo
Sobressaltado, batendo
Soluçando e morrendo
De frente ao seu dono
Caindo calado
Seu dono o subiu ao peito
Enfiou pelo buraco
E depois ficou mostrando
A todos aqueles
Que tinham um coração...
De ferro retorcido
Que ele tinha um coração
Mesmo de carne já morta.


Ander 27/10/2014

Amanda Ripley




Meu coração bate junto com de Amanda Ripley
Perdidos no terror fantasmagórico do espaço
Protagonista e jogador corpo de suspense suspenso
Com o “O Organismo Perfeito” das entranhas de H.G Giger
Que o ácido corroa as vísceras e que a segunda boca perfure o crânio.


Ander 25/10/2014

Subir na Árvore


A infância é o espelho d’água
É o reflexo de nosso narciso
Não vamos tocá-la
Porque sua imagem se esparrama
E elas cresceriam muito
É nós encurvaríamos
Deixamos o reflexo quieto
Do jardim florido
Que elas brinquem para sempre
Num mundo só de crianças
Não a vestimos de adultos
Criança deveria ser atemporal
Como são os gatos  
E ter asas de pássaros
Na imaginação.


Ander 01/10/2014

Dedos do Mistério


Que bela dança que fez as Estrelas
Em espiral de poeiras te formou
Nas ondas cósmicas amarelas
O Caos Arquiteto o amou.

E pelos dedos do mistério
Escorreu da abóbada do Universo
Aquilo que seria o finito de sua consciência
E assim se formando do mesmo liquido ancestral.


Ander 15/09/2014

O céu, o mar e o deserto


Pulou de um precipício
O menino que levantou voou
Com suas asas de Ícaro
Alcançou nuvens e mergulhou.

Quando bateu nas águas
As estrelas lá enamoradas
Desceram nas ondas agitadas
E seu corpo feito já dado largas...

Saiu dos mares para a terra lava
Na decrepitude de todas as camadas
Seus ossos desfizeram na profunda cova
Com o que sobra de tudo amor e toda amada.

Soliloquio da criança ao relento:

- Hoje é deserto, nem vida e nem morte
__________Batem ou Passam_________
Mais por esses portões
E minha vista não alcança nada
Grãos de poeira dançam nas carcaças
Não há caçados não há quem caça
Nos destroços dessa memória.


Ander 01/09/2014

Acerte o Sol com sua espingarda


O mundo morreu, amigo
Mas o mundo está mais vivo
Dos sonhos que desceram consigo
E o corvo e o abutre rabiscam seu livro.

Quando a vista aguada
E fecham duros, esmaga
O sopro da vida acuda
Definha, retorce, apaga.

Mas as águas não param
Ventos estremecem nas trevas
E tantos ruídos fazem as bicharadas
E nenhum condiz com seu fantasma.

Tristezas colheu, amarguras infindas
(Vai! Acerte o Sol com sua espingarda)
A vela da vida oscila. A serpente...
O cordão umbilical já te estrangula.


Ander 20/08/2014

Poeminha de criança para o Sol


Sol de você nunca mais reclamo
Mas se for para ficar, fica de vez
Não tanto indo e vindo e indo e indo e indo
Pode ficar de mansinho e também bem esquentado
(Você é quem decide, você é quem quer)
Não corro mais dos seus braços, palavra de escoteiro
Não vou para a sombra quando você lá extrapola
-  Na escuridão aterradora do seu Universo -
Só te peço que fique, teu sorriso abrindo as nuvens
É um encanto, então emendaremos escadas
E levaremos flores para você.


Ander 18/08/2014

Manifesto anti sonhar


Ignore! E vá para as montanhas
Deixando tudo que é feito humano
Deixando tudo quanto é sonho
Castores e raposas não sonham
Dinossauros não sonharam
Então porque tu ai tem que ser....
O contorcedor de tantos sonhos
Nem mais nem menos de tantas espécies
Pois aquelas seguem a vida
Aproveitam a Lua e o Sol e uma macieira.


Ander 22/07/2014

A agonia de uma árvore




Este céu está mudado
Abruptamente
Os ouriços estão partindo
Abruptamente
Minhas folhas exasperam
Abruptamente
Soltando dos meus galhos
Abruptamente
Que rugido incompreensível
Abruptamente
Meu tronco de ébano
Abruptamente
Mortalmente cortado
Abruptamente
Erguido por correntes
Abruptamente
Levado para a fabrica
Abruptamente
Meus pedaços sacudiram
Abruptamente
Pedindo e pedindo
Abruptamente
Meus irmãos chegaram
Abruptamente
Todos desmembrados
Abruptamente
Somos todos um agora
Abruptamente
Somos cadeiras e armários
Abruptamente.


Ander 21/06/2014

Flor Fincada


Se eu pudesse voltar no tempo
A levaria aos encantos da poesia
Mostraria a beleza de um arco-íris
E caminharíamos juntos pelos campos.

Se o tempo me desse esse pedido
Como uma vela de aniversario assoprada
Pediria que suas paixões fossem mais polidas
Tão menos angustiadas e mais refletidas.

Você notaria a beleza de um flor machucada
Que alguém em desvario de maldade a teve
Numa estrada de terra essa flor fincada
Arrancou sem piedade seu corpo leve.

Se o tempo assim quisesse
A bifurcação no final da estrada
Você iria comigo a que te envelhecesse...
A alma e que os sentidos te dariam dadas.

O amor abriria num leque
De possibilidades coloridas
Não mais nas balelas infindas
Nos disparates frívolos.

Mas o tempo assim não volta
- Nós somos o que somos -
E com pesar vejo a indo dentro
Desfalecendo dentro do seu cosmo.

Embora para amar, o amor...
Tem que estar em si próprio
Para assim permitir o amor ao outro
Primeiro a de se amar primeiro.

Como gostaria que por tudo sentisse
Todas essas palavras escritas na chuva
Pois elas ressaltam em você agua doce
Nesse maremoto de aguas ofensivas.

Pois antes seus olhos de beleza ilimitada
A candura desses olhos que me olham
E olhos para seus olhos de doçura
E não me canso de olhar e sempre a ti olho.


Ander 16/04/2014

Da Virtude e Perversão


O amor é a substância da virtude
Em todos seus caminhos serenos
Acompanha seu dono amiúde
Ele se assemelha a boa bebida
A garrafa que delicia o vinho
O cabelo grisalho e a escada
No entanto esse vinho é bivalente
Tanto mal quanto bom
Pois a perversidade e a virtude são irmãs 
E ambas crescem no coração.


Ander 25/03/2014

Tramas e Dramas


O acaso e o destino são dois amantes
Enamorados indistintos nos corações...
Da gente. Tramas absurdos se repetem
No caminho de nossas vidas e nossas ações.

Assim nossas vidas duas vezes acontece
E o que passamos continua pelo outro
Pela essa janela meu coração esvanece
Permitindo que eu olhasse tudo por dentro.

Nesses interiores há vendaval e há fluidos
Engana-se quem por dentro pensou ser forte
A tempestade que aflige a terra desmoronando-a
É a mesma magoa que abundantemente nos despe.


Ander 14/03/2014

Manifesto Niilista


Eu que ainda não vim
Posso alguma vez interessar-me sobre o meio
O meio para o fim do meu intervir
- de quem ainda não veio -
Eu que ainda não sou,
Voltando ao não primário
Do Ser eu que Sou
E de que nunca existirei de fato
Explodindo e implodindo em reverso aerodinâmico
Serei de pouco a pouco algo que não faz sentido algum
Retrocedendo ao ectoplasma da não alma
E a matéria álgida de todas as estrelas.


Ander 13/12/13

E no fim existe Buda




Não importa o que a vida atormenta...
O ser. Pois essa mesmo logo acalenta
E logo se desfaz e logo se reinventa
E se faz um sorriso sorrir vezes quantas
A segunda lágrima que cai já está certa
A terceira implode incógnita
E a quarta é ascensão anarquista
E a quinta num instrumental solista
É a paz e o descanso de um budista.


Ander 18/02/2013

Algodão




De pé perante um abismo
Olhei a substância da morte
E mergulhei em meu sadismo
Para comprovar os enigmas da sorte.

Cai em demasiados rios de lírios
Sem um ferimento ou dor impossível
E ao meu lado um estrebuchado rouxinol
Um animal que me acompanhou ao meu delírio.

Nas hostis vegetações fechadas
Senti a dor dilacerante das pedras
A espremer as facetas imaculadas
E não ter êxito nas cátedras das freiras.

E dessas veredas de tardes obscuras
A fauna inteira do Brasil a espiar-me:
- Igual à ciência ao redor de um cadáver -
E desse ínterim tais coisas a irritar-me.

Em minhas andanças evitei certo animal...
E dessa experiência da sorte deparei-me rente a rente
Lá vindo, a rastejar, a sibilar, a maldita serpente
Lá vindo assim bem nobre arrogante e vil.

 - Numa posição antropomórfica
Este réptil zombou das duas pernas
Por essa ser glamour da razão e da perfeita física
Conseguinte filosofia e não ter compatibilidades fraternas...

Com os desígnios da religião
E no seu entendimento
Ser um símbolo da perversidade
Para essa e da sabedoria na filosofia
Era um rudimento incrivelmente inexo -
Gritei “sai daqui demônio irreflexo!”

Cansado dos bichos de terra pulei ao mar
E esse me vomitou no mesmo instante
É que o mar desdenha o homem antes
E o homem o mar quer tomar.

Cai em terra, mas logo fui levado pelas aves
Tão alto, tão alto, tão alto que andei nas nuvens
E parei de andar e parei de tudo dentro dessa aeronave
Somente esses pedaços brancos, algodões de versos para narrar.


Ander 16/02/2013

Coração Meu




Meu coração tem catedrais imensas
Alastradas, escancaradas e sombrias
Quero eu inundá-las até o teto, todas elas...
Das torrentes das águas das chuvas
Os tolos corredores de Meu coração
Meu coração é um labirinto de espinhos
E sou cárcere do labirinto de Meu coração.


Ander 10/02/2013

Dionísio XXI




Dionísio moribundo suspirava
Ao pé da gigantesca sepultura
Ergueu o dedo suave a altura
E ao seu epitáfio falava.

O sexo espiritual eunuco
Estagnado incredulamente
Paladar horrível. Soltura dos dentes
E o vinho vazado de uma vagina cancerígena.

Dionísio Bradava! Hoje a desdém
Antidepressivos nessa hora
Pois não há ninfas a deixá-lo duro
Ou mancebos a bolinar seu rabo.

Cornucópia dos sentidos
Deus da orgia, deus da libido
Odores de seus vales apodrecidos
E há só moscas aos redores de Dionísio.


Ander 02/02/2013