quinta-feira, 23 de abril de 2015

O olhar repulsivo da Natureza


Deus que de todos os homens é dono
Cada animal imóvel que a vida desespera
O retira das trevas profundíssimas do sono
E os põe nos penhascos pontiagudos da terra.

De lá das alturas esse desgraçado sofre
E caminha deixando pedaços da carne
Transparecendo a caveira e a psique
E horrorosamente os dois morrem.

Nem cadáver e nem fantasma
Sombra dos cantos lamentáveis
Montanhas de detritos inexoráveis.

E o Senhor em seu orgulho imenso...
Enaltece suas abominações desse evento
Onde a Natureza repulsivamente olha os dois.


Ander 22/04/2015

terça-feira, 21 de abril de 2015

Vil Fantasma


O chá na boca passa a hora
E amarga! antes doce estava, e agora
As palavras, sem vida de um amoroso padre
A garganta fecha. Bate a janela de madeira, a madre
E os trincos dos quartos se contorcem, pavoroso adveio
Tocam os sinos, chamam o povaréu, um ar completamente feio
Todas de saúde estavam e irão morrer em seus quartos pequenos
O tal dia tarda, iluminando a candeia de barro. E cheia de venenos...
Da serpente! que sai dos matos e morde o animal que estaria à mesa.

Em frente o cemitério onde pouca gente espera o cadáver de um velho
O corpo que rendeu-se a desmaterialização de todo um aparelho...
E o carro fúnebre carregando essa carcaça, horripilante passava
E acima um fantasma atormentado que não se conformava
Ia com a odiosidade da vileza profunda que teve em vida
Vai... com o rancor na alma que o acompanha ainda
Nas queixas no abismo da infernal estranheza.


Ander 21/04/2015

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Putrefação Metempsicose





Queria sobre o meu corpo
Acima do meu estado último
Do socorro. E logo para o túmulo
Encerrando a harmonia do átomo.

A luz e as trevas se abrindo
Eu pelo ínterim tecendo
Ou como espírito subindo
Por fim com o Diabo descendo.

O fluido que reencarna
Metempsicose das ideias
Cósmica circulação eterna
Para a finalidade da matéria.

E aqui a carne se desfaz
A mosca ruidosa a consome...
Come a parte que o cérebro é capaz...
De criar o engano de ter alma o homem.

E volto da putrefação da epiderme
Analisando a inexistência da pós-carne
Nem reencarnação, nem céu e nem inferno
Somente a dor do estalo intrincado do carbono.


Ander 07/04/2015