segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Introspecção ao ossuário


Que sentido vou dando a essa existência
Quando o mundo esse, pequeno e aleatório
Me propõe, este velho, cuja todas as ciências
Deu-lhe cento e vinte e cinco anos até o ossuário.

O sentido que o mundo dá ao homem
Dá falta de sentido o mundo lhe propõe...
No primeiro tropicão é a carne que se opõe
E não vence, é onde todos os bichos a comem.

Nesses anos todos no abismo que vejo este corpo
Despencando enxerto de vento, de vento é meu corpo
Rolando nos beirais e espetos, para sempre cai este corpo
E eu lá de cima o vendo, despescando, o amor derradeiro.

O sentido é correr para o útero e despedaçá-lo
Abri-lo em trilhões de pétalas ao céu infinito
E voltar silenciosamente igual a cascalhos
Pavimentando as couraças do mundo!


Ander 18/12/2016

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Lolita


Mas logo como tudo que passava
Folhas verdes e quentes vinham
Deitarem as costas tuas sobre as minhas
Que as lágrimas aparavam
Delas tantas há caírem sobre teus seios.

Mas o ato final que as cortinas encerraram
Foi o veneno, o punhal e o tiro que laceraram
E hoje no encéfalo enterrado, vez ou outra
A mão de nossos esqueletos desarrumados
As pás que todos e nós mesmos nos jogaram
A maior parte da pesada terra, imprecisamente foi minha.


Ander 08/09/2016

quinta-feira, 28 de julho de 2016

A cercania dos túmulos


Desde o corvo que trouxe
O último espírito humano
E o mesmo o levou de volta
Para a cercania dos túmulos.

Tudo parte e partiu de mim
A casca da árvore que a pele raspa
E o ar sombrio que a Lua espreita
E agora o espírito está com o corvo.

E nada mais parte de mim

Como o fim de tudo
Os mares que se fecham
Os degraus que desabam
De quem sobe e de quem desce.

O espírito que o pássaro carrega
Também ali não mais estou
Quando não sou deveras nada
Todo o Universo regressa e rasga
Para não ter a explosão primordial.


Ander 27/07/2016

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Música e Morte





Música é falecimento, é fúria
E dilacerações, é o espírito
Inquieto de caos e luxuria
Acoplado em transe e atrito.

Sexo é a morte derradeira
A boca cuspindo a porra inteira
É a noite, fim de bebedeira
- Que estórias vis transcorra -

Música é o assalto sombrio
Democrática sensação dos trios...
Cantarolando numa passagem
Dos becos, das aragens.

Sexo é a luz dos instintos
Mordida antropofágica
Escândalos do raciocínio
A Biologia morfológica.

Música de infernais acordes
Arrancada da alma trágica...
Para dançar sobre os cadáveres
De uma noite lírica sobre a morte.

Sexo do violento incesto
O começo profano do Gênesis
Sexo do Darwinismo protesto
Orgias de trilhões de bactérias.

Música no inferno pandemônio
Onde Satã compôs a primeira melodia
A segunda entregue a seu homônimo
Tocada ao cintilante Sol do meio dia.

Sexo primeiro e sexo segundo
De pura natureza proposital
O terceiro é o olho não fecundo
Que se abre perante o mundo!


Ander 29/01/2016